Os 23 anos do seu serviço como Bispo foram uma graça providencial nos tempos conturbados e fecundos da afirmação da democracia portuguesa e das sucessivas crises sociais e económicas que atingiram o país e particularmente esta região. A sua palavra livre e libertadora, inspirada no Evangelho, ergueu-se com toda a clareza contra a injustiça que atingia particularmente os mais pobres. O seu sonho de dignidade humana para todos, inspirou e deu força aos seus esforços para mobilizar pessoas e fomentar instituições capazes de irem ao encontro dos mais necessitados, como a Cáritas Diocesana, os Centros Sociais Paroquiais e tantas outras instituições de solidariedade, voluntariado e partilha, que marcaram as origens da nossa Igreja diocesana e continuam a fazer parte da sua identidade e do seu projeto.
Aliada a essa clareza de princípios e atitudes, Dom Manuel foi um homem de diálogo e um lançador de pontes, atitudes particularmente importantes no ambiente crispado que marcava então o panorama social e político nacional, com particular incidência nesta diocese. O clima de respeito e colaboração que carateriza hoje o relacionamento entre a Igreja e a sociedade na península de Setúbal, muito deve à atitude lúcida, aberta e reconciliadora do seu primeiro Bispo. Mas a sua visão social vai muito para além da vida diocesana, deixando um rasto profundo e incontornável na Igreja e na sociedade do nosso país.
Contudo, a diocese de Setúbal, com os seus padres, diáconos, religiosos/as e leigos, hão de lembrá-lo, sempre e acima de tudo, como o seu Bispo, amigo e próximo, desprendido de si, habituado a viver com simplicidade e a passear, a pé ou de bicicleta, pelas manhãs de Setúbal, pai, pastor e irmão, tão inflexível na defesa da verdade e da justiça, como terno, amigo e compassivo no encontro fácil com aqueles que acolhia sorridente.
Obrigado, caro Dom Manuel Martins, pelo Evangelho da fraternidade, da alegria e do compromisso, que nos foi lendo com a sua palavra e com a sua vida, fazendo-nos entrever o Coração do Bom Pastor que o inspirou.
Bendito seja Deus que o enviou como primeiro Bispo, colocando assim uma figura tão inspiradora nas origens da nossa Igreja de Setúbal. Que O Bom Pastor o receba nos seus braços de misericórdia e nos faça cuidar e fazer crescer as sementes que você foi lançando nestas terras fecundas de Setúbal, que tanto amou e das quais nunca se desligou.
Setúbal, 24 de setembro de 2017
+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal
Sem comentários:
Enviar um comentário
Dê a sua opinião: