NOTRE DAME DE PARIS

Homenagem à Catedral de Paris 
que atravessou os séculos, 
e não menos afrontas, violências, destruições, guerras 
e ressurreições!

O Mistério dos Santos Inocentes
Excerto
(Charles Péguy)

Nada é tão belo como uma criança que adormece a rezar as suas orações, diz Deus.
Digo-vos que não há nada tão belo no mundo.

Nunca vi nada tão belo no mundo.
E, não obstante, vi coisas belas no mundo
E conheço-as bem. A minha criação transborda de beleza.
A minha criação transborda de maravilhas.
Há tantas, que não se sabe onde pô-las.
Vi milhões e milhões de astros rolar debaixo dos meus pés como as areias do mar.
Vi dias ardentes como chamas.
Dias de Verão de Junho, de Julho e de Agosto.
Vi noites de Inverno pousadas como um manto.
Vi noites de Verão sossegadas e doces como um poente no paraíso.
Repletas de estrelas.
Vi as encostas do Mosa e essas igrejas que são as minhas próprias casas.

E Paris e Reims e Rouen e catedrais que são os meus próprios palácios e os meus próprios castelos.
Tão belos, que os guardarei no céu.
(…)
E vi essas planícies e esses vales de França.
Que são mais belos do que tudo.
Vi o mar profundo, e a floresta profunda, e o coração profundo do homem.
(…)
Ora, eu digo isto, diz Deus, que não conheço nada tão belo em todo o mundo
Como uma criança pequena que adormece a rezar as suas orações
Debaixo da asa do seu anjo da guarda
E que sorri aos anjos ao começar a dormir.
E que já mistura tudo, e que já não compreende nada
E que mete as palavras do Pai Nossoa torto e a direito nas palavras da Ave Maria
Enquanto desce já um véu sobre as suas pálpebras
O véu da noite sobre o seu olhar e sobre a sua voz.
Vi os maiores santos, diz Deus. Pois bem, eu vo-lo digo.
Nunca vi nada tão gracioso, e, portanto, não conheço nada tão belo no mundo
Como essa criança que adormece a rezar as suas orações
(Como esse pequeno ser que adormece confiadamente)
E que mistura o seu Pai Nosso com a suaAve Maria
Nada é tão belo…


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