É melhor não, nos tempos que correm

Estêvão Nascimento da Cunha
21/10/2018

O caso deixa evidente que a dita educação sexualnas escolas não passa de um veículo para uma doutrinação ideológica de Estado, pela qual passam as maiores violências e perversões contra as crianças
O infame inquérito a que, no âmbito da disciplina de Cidadania, sujeitaram crianças de nove anos na Escola Francisco Torrinha suscitou, segundo vários jornais e meios de comunicação sempre moderadamente anunciaram, indignação nas redes sociais. Na sua preocupação com a isenção, as notícias nunca deixaram de dar bem conta – no meio da indignação geral – da existência de opiniões muito favoráveis a este tipo de inquéritos, inclusivamente de pais, porque é preciso incutir-se nas crianças a igualdade de género.

Na sua maioria as reacções relatadas foram cheias de cautela e paninhos quentes, desde uma representante da associação de paisque, apesar de afirmar não ter havido informação concreta sobre o que se ia passar, quis frisar que os pais estão calmos e a maior parte dos alunos não percebeu bem a questãoe que o caso não precisava de tomar as proporções que tomou, a outros pais, menos representantes mas certamente mais representativos, que disseram que não gostariam que os seus filhos, no caso uma filha do 7o ano, respondessem a inquéritos deste tipo, mas recusando identificar-se: É melhor não, nos tempos que correm…”– neste caso a cautela foi confessadamente ditada pelo medo da ditadura vigente a que andamos todos submetidos.

Foram ainda relatadas opiniões de peritos e especialistas que consideraram que o inquérito era inadequadodesajustado para crianças desta idade.
Mas o tal inquéritonão foi só inadequado. Não se tratou apenas de uma actividade desajustada. O acto a que aquelas crianças foram sujeitas foi um acto criminoso.

Trata-se de uma actividade que lhes é imposta sob a égide da autoridade da escola, na qual se começa, logo à partida, por induzir a criança num erro, impregnado de intenção ideológica, apresentado falsamente como se se tratasse de uma evidência unanimemente aceite, pedindo-lhe que indicasse o seu Sexo/identidade de géneroe dando-lhe três opções: Homem; Mulher; Outro.
Outro?! Mas que outro?
Estaria o autor desta ficha verdadeiramente à espera que alguma criança respondesse ter outro sexo que não o masculino ou feminino? É evidente que não. O objectivo não era perguntar nada à criança, mas antes dizer-lhe alguma coisa. Incutir no seu espírito de forma insidiosa que pode haver– mais, que a própria criança poderia ser de – um terceiro sexo.

E desta forma começar logo por procurar destruir a natural percepção que qualquer criança tem dos dois sexos, incutindo-lhe uma mentira que fere um pressuposto básico fundamental e estruturante na sua vida. Mentira, evidentemente – mas hoje é preciso gritar evidências – porque objectivamente existem dois sexos, e nenhum outro. E porque as pessoas não têm género: género têm as palavras.

Pretende-se criar um abismo na consciência da criança, em que ela ponha em causa a sua própria identidade sexual, obrigando-a a implicar-se pessoalmente numa perversão ideológica inventada por adultos carregados de frustração e mágoa.

Depois desta entrada fulgurante, pergunta-se no inquérito, na segunda pessoa do singular: Namoras atualmente? Já namoraste anteriormente?Aí as hipóteses de resposta são só duas: sim ou nãoNa cópia que circulou, a criança lá responde que não à devassa a que a autoridade escolar o submete, provavelmente com vergonha (mesmo não estando o seu nome no papel) por expor assunto em que o natural pudor infantil o inibe. Até que se vê confrontada com o inimaginável:
Sinto-me atraído/a por: Homens; Mulheres; Ambos
Assim, bem vincada a pergunta na primeira pessoa do singular, para que a pobre criança não pudesse escapar a um auto-exame absolutamente indescritível, sobre coisas nunca pensadas, nunca imaginadas – menos ainda relativamente a Homens/Mulheres adultos! – , decerto não inteiramente compreendidas, mas seguramente com um impacto dilacerante no mais íntimo da sua consciência.
É de uma perversidade diabólica. E tem para mais uma inequívoca intenção de sugestão da homossexualidade para que a criança se ponha em causa também a esse nível. O que seria inqualificável perguntar e sugerir seja a quem for, é atirado contra uma criança de nove anos, sem qualquer estrutura ou defesa perante este tipo de ataque à sua sensibilidade natural.

Como é evidente, trata-se de uma interferência na liberdade de desenvolvimento da sexualidade da criança, para mais feita de forma sub-reptícia e a coberto da autoridade escolar e do anonimato de uma sala de aula fechada. Está em causa, por isso, além de todo o escândalo que isto implica, um ataque àquilo que precisamente é defendido pelo art. 171o do Código Penal, que prevê o crime de abuso sexual de crianças.

Comentadores afirmaram que acreditam que a intenção de inquérito possa ter sido boamas desadequada. Mas não há qualquer possível boa intenção neste acto, que é intrinsecamente malévolo, dissimulado e cobarde, porque atenta contra indefesos, incentivando descaradamente a sua hipersexualização e a homossexualidade.
É impressionante como actualmente as crianças são tão infantilizadas e rodeadas de mimo e superprotecção – muitas vezes consequência da tendência para a redução drástica do número de filhos e do sentimentalismo reinante – mas ao mesmo tempo são submetidas, de forma institucional e em ambiente de escola estatal, a violências psicológicas inauditas que visam incidir sobre a sua estrutura íntima mais profunda e violentam a sua sensibilidade infantil, com danos e feridas que as podem marcar para o resto da vida.

Mas porque é que não podem deixar simplesmente as crianças em paz? Porque é que não as deixam crescer livremente, sem ter que pensar em coisas em que elas naturalmente não pensariam, nem têm desenvolvimento ou maturidade para pensar? Para quê desinquietá- las artificialmente, impondo-lhes uma carga insuportável que nem compreendem? Para quê macular-lhes o espírito e a sensibilidade que lhes é própria? Porquê esta obsessão com a sexualização de tudo, atacando-se até quem nem chegou à puberdade? Porquê este ódio à inocência das crianças?

O caso deixa bem evidente que a chamada educação sexualnas escolas não passa de um veículo para uma doutrinação ideológica de Estado, e pela qual passam as maiores violências e perversões contra as crianças. A propósito de pretensas intenções de incutir o respeito pela diferença, e da hoje sacrossanta igualdade de género– que dá para cobrir todos os embustes ideológicos que se queira imaginar – o que se faz é a apologia da diferença, o incentivo à experiência de bizarrias de todo o tipo: Os meninos agora tocam-se desta e desta maneiraO menino agora experimenta usar um vestido para experimentar sermeninaO menino agora usa um prato cor-de-rosa porque senão é sexistaE faz esta brincadeira com aquele menino porque senão é homofóbico.

Ideologia de género acima de tudo, e destruindo tudo à passagem. Começando pelas crianças.

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