1. “Leigos” são os baptizados chamados a ser fiéis a Deus no mundo. Trata-se de gente sã, tanto mais tragam Deus ao mundo!
“Laicismo” é, por sua vez, a afirmação de que Cristo, a Igreja os cristãos, se existem, deverão estar fora do mundo. É uma tendência política e social que pretende tornar insignificante a presença de Cristo no mundo.
“Século” remete etimologicamente para geração. Portanto, para o que se regenera a cada 100 anos. Para os antigos cristãos queria dizer, também, o “tempo dentro do mundo”, diferente do “tempo para além do mundo” a que chamamos vida eterna. Daí que se fale de “vida secular”, a vida dentro do mundo. Por sua vez “secularismo” é a tarefa ideológica e erosiva que porfia em separar, mais anda, divorciar, o tempo dos homens da relação com Deus.
2. “Consagrar” quer dizer “dar a Deus”. Se tudo pertence a Deus, verdade é que Deus deu tantas coisas aos homens que servem para os usos múltiplos que os homens lhes dão, regressando a Deus quando os homens Lhas oferecem no culto. Assim o pão e o vinho, que representam o fruto da terra e do trabalho do homem, oferendados a Deus em nome de tudo o que os homens receberam e Lhe devolvem em sacrifício. De facto, “sacrificar” é, fundamentalmente, “sacro facere” — fazer sagrado.
Por definição só a Deus nos podemos consagrar. Pois só Deus tem direito à nossa pertença total. Com efeito, só a pertença a Deus torna sagrado. Sim, consagrar é por definição, consagrar a Deus. Assim o fomos todos os que fomos baptizados.
3. A grande crise espiritual que atravessou o século XX e que se manifestou com grande desvario a partir dos anos 60 tentou inventar uma “fé sem religião”! Ou seja, uma relação pura com Deus, toda interior (sem ritos), moral e ética (quebrando o credo e com poucos sacramentos, apenas entendidos principalmente como “sinais” — a água da vida, o pão da partilha...— e não como puros dons da graça divinizante).
A certa altura deixou de interessar às maiorias o que sabíamos com certeza de Deus (os dogmas) deslocando-se o centro da atenção muito mais para o que Deus (ou a “Comunicação Social”, ou o nosso espelho...) sabia de nós mesmos: que somos bons, solidários, coerentes, por aí fora.... Daí ter deixado de ser necessária a absolvição, a redenção ou salvação. O que as pessoas precisavam era de terem a (auto)consciência-auto-referida e, portanto, sem grande temor e combate de fé. O sagrado, tudo o que fosse manifestar reverência material e visível a Deus, foi considerado espúrio. Obviamente, nem Nossa Senhora escapou! Se “Deus é amor...”, não precisamos de repetir terços, fazer sacrifícios, ir a Fátima…
Acresce ainda o grande e tantas vezes intransponível escrúpulo dos teólogos e pastores recusando cumprir com o gesto que Nossa Senhora tinha pedido na revelação “privada” à Lúcia. Parecia que a devoção a Maria desordenava o primado “teísta” de Deus. Mas a Carmelita de Coimbra não desarmava: 8 vezes foi repetindo aos Papas que se sucediam que a Consagração que Nossa Senhora pedira não fora feita na devida forma. Esta obrigava: a) “Consagrar” o mundo ao seu Imaculado Coração, b) ser presidida pelo Papa em comunhão com todos os bispos, c) fazer particular menção à conversão da Rússia.
Acresce ainda o grande e tantas vezes intransponível escrúpulo dos teólogos e pastores recusando cumprir com o gesto que Nossa Senhora tinha pedido na revelação “privada” à Lúcia. Parecia que a devoção a Maria desordenava o primado “teísta” de Deus. Mas a Carmelita de Coimbra não desarmava: 8 vezes foi repetindo aos Papas que se sucediam que a Consagração que Nossa Senhora pedira não fora feita na devida forma. Esta obrigava: a) “Consagrar” o mundo ao seu Imaculado Coração, b) ser presidida pelo Papa em comunhão com todos os bispos, c) fazer particular menção à conversão da Rússia.
Mas eis que, finalmente, a “Consagração” foi feita na devida forma: no dia da Anunciação de 1984, S. João Paulo II fê-la na modalidade que foi considerada válida pela Irmã Lúcia (em carta de 29.8.1989). "Jamais, em toda a história da Igreja, os Papas tinham feito tanto para obedecer a uma revelação privada!" (René Laurentin). Pouco tempo depois o império soviético desmoronou-se. E sem particular violência.
4. Se o “laicismo” e o “secularismo” separam e divorciam o mundo de Deus pela “consagração” o que os fiéis expressam é o desejo de reunir e por em comunhão a sua liberdade e vida, as suas coisas e histórias, limites, medos, doenças, perigos e, ainda, desejos, ousadias, serviços e disponibilidades em comunhão com Deus.
5. “Consagrar” é um gesto pelo qual reconhecemos que a suprema eficácia não é da ONU ou da OMS, nem dos laboratórios nem de qualquer outra competência humana. “Consagrar” é reconhecer que o mundo pertence tanto ao Criador agora como na hora do Big bang. Que Deus não criou o mundo e o deixou a rolar a ver até onde é que isto vai. “Consagrar” é reconhecer que o mundo é tanto de Deus hoje como na hora primeira ou na hora última do cosmos.
6. Por sua vez “Consagrar a Nossa Senhora” é reconhecer que há uma eficácia maior do que a da potência dos homens, a saber, a da confiança, fé e obediência de amor a Deus! Consagramos a Maria porque sabemos o quanto lhe confiou a Providencia. O Filho Único de Deus, o Salvador, o Redentor é também seu filho. Hoje celebramo-lo: o Verbo Eterno do Pai que incarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria. Portanto, consagrar quer dizer que confiamos à Mãe para que entregue ao seu Divino Filho: “Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”.... Ou seja, Deus quer que os homens deste mundo — altamente tecnológico — deem e entreguem a sua liberdade, inteligência e vontade, à Virgem. Deus quer que confiemos em que há pureza de intenção no mundo. E que, ela mesma, actua no mundo. A história não é um mecanismo. Mecanismo determinista, biológico ou social A história são as histórias das pessoas que se abrem ou fecham a Deus!...
7. Em conclusão: torna-se decisivo para que a consagração seja feita na devida forma a unidade dos Bispos com o Papa. Chama-se a isso “comunhão”. Os pastores estão no mundo e a sua grande força chama-se comunhão: de vontade (caridade), entendimento, testemunho (martírio) e destino. Consagrar é dizer que Deus opera no mundo reunindo os homens na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Na verdade, que outra coisa é a Igreja senão a experiência de “Eu neles” (ver Jo17.26)?
Daí também a necessidade de referir a “Rússia” na fórmula de consagração. Houve, há, outros regimes e impérios que espalharam os seus erros. Todavia, a Rússia soviética foi a primeira a organizar sistemática e imperativamente um mundo sem Igreja e, obviamente, sem Deus. Portanto, para haver consagração é preciso dizer a verdade: a verdade daquela grande mentira — imperial, cultural, quotidiana segundo a qual o homem deveria calar, matar e extirpar a memória de Cristo da sua vida.
Daí também a necessidade de referir a “Rússia” na fórmula de consagração. Houve, há, outros regimes e impérios que espalharam os seus erros. Todavia, a Rússia soviética foi a primeira a organizar sistemática e imperativamente um mundo sem Igreja e, obviamente, sem Deus. Portanto, para haver consagração é preciso dizer a verdade: a verdade daquela grande mentira — imperial, cultural, quotidiana segundo a qual o homem deveria calar, matar e extirpar a memória de Cristo da sua vida.
8. Aí estamos nós todos perante esta tremenda pandemia. Agradecemos, e muito, a quem entrega o melhor da sua humanidade a este combate. Mas hoje vamos “consagrar”. Quer dizer, vamos afirmar na fé que confiamos, antes demais, e, sobretudo, no poder de Deus, na mediação maternal de Maria e que desejamos ser Igreja vivendo a força e a paz do mistério de comunhão trinitária. E que também nós denunciamos a mentira: a deste tempo que acredita apenas em si e nas suas capacidades tecnológicas, nas suas máquinas e modelos económicos globais. E na possibilidade de progredir e progredir tanto que nada nos deterá.
Bom, eis, porém, que um minúsculo vírus, verme, mostrou que o Monstro da cabeça de ferro e de braços, peito e pernas de aço tinha os pés de barro...
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,
Para sepre seja louvado com sua mãe maria Santíssima!
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