NATAL

2020

 

Que pondo os olhos da fé em Jesus,

o Senhor nos dê a determinação de José

 

(Textos e orações para nos ajudarem a crescer no amor 

a Jesus na Eucaristia, 

e na devoção a S. José, 

neste ano que o Papa Francisco lhe dedica)

 


S. João Paulo II 

(Homilia da Missa com universitários, Roma, 18.12.79)

 

Comprometei-vos a viver em graça! Jesus nasceu em Belém, precisamente para isso: para nos revelar a verdade salvífica e para nos dar a vida da graça! Procurai ser sempre participantes da vida divina infundada em nós pelo Baptismo. Viver em graça é suprema dignidade, é inefável alegria, é garantia de paz, é ideal maravilhoso e deve ser também lógica preocupação de quem se diz seguidor de Cristo. Natal, portanto, significa a presença de Cristo na alma, através da graça.

 

Da Liturgia Hispano-Moçárabe

(Dos cristãos que habitavam a península ibérica antes, durante e depois da invasão muçulmana)


Alimentados com este remédio sem par,

elevemos as nossas suplicas a Deus e Senhor

capaz de sanar os nossos corpos e as nossas almas: Ele nos mantenha seguros na esperança e firmes na fé, alegre-nos com os esplendores da Sua criação e nos mantenha, também, perpetuamente felizes entre as demais criaturas, obra das Suas mãos.


***


E agora chamamos por Ti, Senhor,

porque és o Salvador dos homens

e Homem todo poderoso,

porque habitas na Tua misericórdia,

na justiça e no perdão.

Move os nossos corações para desejos santos, 

põe nas nossas bocas orações de paz

e faz com que a nossa vida Te seja agradável.

Não Te pedimos, Senhor,

que renoves o Teu nascimento no mundo,

mas antes que nos conduzas à Tua divindade!

E permite, Senhor, 

que o que a Tua graça realizou outrora,

no corpo de Maria, 

o faça, em Espírito, na Tua Igreja.

Que a sua fé Te conceba, 

que a sua inteligência Te renove,

que a sua alma Te conserve eternamente.


Da Liturgia Bizantina

(Na comunhão dos fiéis)

Diácono: “Atenção!”

Padre: “As coisas santas aos santos”

Diácono: “Com temor, fé e amor aproximai-vos!”


(Orações de preparação para a comunhão) 

Da Tua mística Ceia, Filho de Deus, torna-me participante, não revelarei este mistério aos Teus inimigos, nem te darei um beijo como Judas, mas confesso-Te como o ladrão: 

Recorda-Te de mim, Senhor, no Teu reino!”


***


Senhor eu não sou digno que tu entres sob o tecto sórdido da minha alma. 

Mas como na gruta e na manjedoura dos animais,

como na casa de Simão, o Leproso, em que Te dignaste repousar, 

como quando acolheste a mulher transviada, parecida comigo, quando ela se aproximou de Ti, assim digna-Te vir 

ao presépio de minha alma insensata,

e ao meu corpo impuro, corpo de morte e de lepra,

e como não achaste repugnante a boca suja da pecadora beijando os Teus pés imaculados,

assim, Senhor meu Deus, 

não te desgostes de mim, pecador, 

mas na Tua bondade e no Teu amor pelos homens 

torna-me digno de comungar do Teu Santíssimo Corpo e Sangue. 

 

(Da liturgia de Natal)

O Teu nascimento, Cristo nosso Deus, fez nascer no mundo a luz do Conhecimento. 

Nela os adoradores dos astros aprenderam, de um astro, a adorar-Te, ó Sol de Justiça, 

e a reconhecer-Te como o Oriente vindo do alto.

Glória a Ti, Senhor!


***


Pequenino bebé deitado numa manjedoura, 

o Céu convocou, através de um astro, e conduziu, até Ti, os magos, primícias das nações que ficaram estupefactas de ver, não ceptros e tronos, mas uma extrema pobreza. 

O que há de mais modesto do que uma pequena gruta?

O que há de mais humilde, na verdade, do que os panos nos quais resplandeceu a riqueza da Tua divindade?

Glória a Ti, Senhor!


Charles de Foucauld

A Incarnação tem a sua nascente na bondade de Deus, mas há sobretudo uma coisa que brilha como um sinal deslumbrante: é a infinita humildade que contém um tal mistério - Deus, o Ser Infinito, o Todo Poderoso... fazendo-se homem e o último dos homens.

 

Romano Guardini

Cristo reina não somente no mundo como criador omnipresente e todo poderoso, mas ainda transpôs, num dado momento, se esta expressão tiver algum sentido, transpôs uma fronteira, fronteira que o nosso espírito não pode conceber. Ele, o imenso, o eterno, o inacessível, o transcendente, entrou, como pessoa, na história... Deus entrou no tempo porque assim o decidiu com soberana liberdade. Eterno e livre, Deus não tem destino. Só •o homem está submetido ao destino e à história. A fé diz-nos que Deus quis entrar na história, quis assumir um destino.

É isto, que o Eterno tenha ultrapassado o limiar do tempo, e que tenha entrado na história, é isto que nenhum espírito humano poderá alguma vez compreender. E a ideia «pura» que temos de Deus deve, mesmo, impedir-nos de aceitar tudo o que parece haver de contingente e antropomórfico nesta concepção. Eis o centro do cristianismo. Se nos limitamos a raciocinar não conseguimos avançar muito. Uma vez, numa conversa acerca destas coisas, um amigo meu teve uma frase que me fez entrever este mistério, muito melhor do que qualquer ideia minha: “o amor é capaz destas coisas”. Essa frase é ainda hoje para mim uma luz. Não porque me tenha esclarecido, completamente, mas porque nos atrai e nos leva por caminhos obscuros a penetrar no mistério. Embora não compreendido, o mistério torna-se, contudo, mais próximo e o perigo do escândalo desaparece. Nenhuma coisa humana, verdadeiramente grande, teve origem, apenas, no pensamento; todas nasceram do amor, são frutos do coração. E o coração tem razões que a razão desconhece. Para as conhecer é preciso 'um 'certo dom... Mas, quando é Deus que ama?! De que coisas pode ser capaz o amor, quando a profundidade e o poder de Deus se manifestam? Dum tão grande esplendor que àquele que nada sabe do amor tudo parece, pois, loucura e absurdo.

 

São José


Papa Francisco

(Carta Apostólica Patris Corde)

 

O escritor polaco Jan Dobraczyński, no seu livro A Sombra do Pai, narrou a vida de São José em forma de romance. Com a sugestiva imagem da sombra, apresenta a figura de José, que é, para Jesus, a sombra na terra do Pai celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele. Lembra o que Moisés dizia a Israel: «Neste deserto (…) vistes o Senhor, vosso Deus, conduzir-vos como um pai conduz o seu filho, durante toda a caminhada que fizeste até chegar a este lugar» (Dt 1, 31). Assim José exerceu a paternidade durante toda a sua vida.

(...) Ser pai significa introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem prendê-lo, nem subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. Talvez seja por isso que a tradição, referindo-se a José, ao lado do apelido de pai colocou também o de «castíssimo». Não se trata duma indicação meramente afetiva, mas é a síntese duma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir, acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive de errar e opor-se a Ele. A lógica do amor é sempre uma lógica de liberdade, e José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida.

(...) Todos os dias, há mais de quarenta anos, depois das Laudes, recito uma oração a São José tirada dum livro francês de devoções, do século XIX, da Congregação das Religiosas de Jesus e Maria, que expressa devoção, confiança e um certo desafio a São José: «Glorioso Patriarca São José, cujo poder consegue tornar possíveis as coisas impossíveis, vinde em minha ajuda nestes momentos de angústia e dificuldade. Tomai sob a vossa proteção as situações tão graves e difíceis que Vos confio, para que obtenham uma solução feliz. Meu amado Pai, toda a minha confiança está colocada em Vós. Que não se diga que eu Vos invoquei em vão, e dado que tudo podeis junto de Jesus e Maria, mostrai-me que a vossa bondade é tão grande como o vosso poder. Amen». 

 

S. João Crisóstomo

Deus amigo dos homens mistura trabalhos e doçuras, estilo que segue como seus santos. Nem os perigos nem os consolos, não os dá continuamente mas, com uns e com outos vai Ele entretecendo a vida dos justos. Tal como fez com José.

 

S. Tomás de Aquino 

José quis despedir Maria não para unir-se a outra mulher nem por suspeitar nela alguma falta, mas por reverencia, cheio de um santo temor por viver ao lado de tão grande santidade.

 

P. António Vieira

Debaixo do patrocínio de S. José não há anos infelizes, ainda que os prometa o tempo. O faraó sonhou com sete anos de fartura e sete de fome: pôs-se debaixo do patrocínio de José [do Egipto] e todos os catorze foram de fartura. De maneira que na previsão do rei havia anos felizes e infelizes; mas na protecção de José os felizes e os infelizes todos forma ditosos. Assim serão os anos que esperamos felizes todos por favor de S. José.


***


Pregando Cristo Senhor nosso em uma Sinagoga de Cafarnaum, e tendo diante de si aos seus discípulos, deram-lhe recado, que estava fora sua Mãe e seus irmãos, e lhe queriam falar: ‘Eis que a tua Mãe e os teus irmãos estão lá fora à Tua procura’. Cristo não tinha irmãos, mas os Hebreus chamavam irmãos aos parentes. E que respondeu o Senhor ao recado? 'Quem é minha Mãe, e quem são os meus irmãos?’ E aqui estendeu a mão, e apontando para os Apóstolos, disse: ‘Eis aí minha Mãe, e os meus irmãos; porque todo aquele, que fizer a vontade de meu Padre, que está no Céu, esse é meu irmão, minha irmã, e minha Mãe’. O que nesta resposta noto e pergunto, é: Assim como Cristo disse ‘o que fizer a vontade de meu Padre, é minha Mãe’ porque não disse também, é meu Pai? Do mesmo Texto se prova a paridade desta instância. Porque quando disseram ao Senhor, que O buscavam seus irmãos, Ele não só respondeu, que os que faziam a vontade do seu Padre eram seus irmãos, senão também as suas irmãs. Logo quando lhe disseram que O buscava sua Mãe, não só havia de dizer (como disse) que os que faziam a vontade de seu Padre, eram sua Mãe; mas coerentemente havia de acrescentar, que eram sua Mãe e seu Pai. Pois porque não disse do mesmo modo: ‘Este é a minha Mãe e este o meu Pai? Porque ser Pai de Cristo é uma grandeza tão superior a toda a esfera humana, que a nenhum homem a promete Cristo. A primeira e mais alta dignidade entre os homens, é a dos Apóstolos, como diz S. Paulo: ‘Primeiro os apóstolos’. E a esses apontando-os com o dedo, concede Cristo o nome de irmãos seus e mãe sua. Mas o de Pai seu, nem a Pedro, nem a outro concede tal cousa. João, que é o mais amado, seja filho de minha Mãe. Mas Pai meu, que é dignidade maior, só o Eterno Padre, e José. 

Em outro género foi José também Pai: como Pai daquela família, que em tão pequena casa habitava em Nazaré. Também aqui, e sem sair daqui, faz o compasso um círculo maior que o do mundo. Todo o mundo habitado não igualava a grandeza, que dentro daquelas quatro paredes tão estreitas, estava encerrada. Aquela pequena família, de que José era cabeça, compunha-se de duas partes tão imensas, que uma era o Filho de Deus, outra a Mãe de Deus. 

O Padre, o Filho e o Espírito Santo são a Trindade do Céu: Jesus, Maria, José, são a Trindade da Terra. Mas na Trindade do Céu nenhuma pessoa manda, nem obedece; porque não há, nem pode haver entre elas sujeição, ou império. Na da Terra, porém, com assombro das Jerarquias, uma manda, e duas obedecem: e sendo Jesus e Maria as que obedecem, José é o que manda e governa.

 

Romano Guardini

José, advertido por Deus, tomou consigo a esposa prometida — e quanto em profundidade deve ter descido esta advertência naquele homem silencioso! O que se terá cumprido nele quando compreendeu que Deus tinha posto a Sua Mão sobre a sua mulher e que a vida que ela agora gerava, vinha do Espírito Santo! Naquela hora teve origem o grande e feliz mistério da virgindade cristã!

 

Louis-Albert Lassus op

José de lábios fechados é o homem da interioridade. Ele faz parte dessa corte de silenciosos para quem falar é perda de tempo e, sobretudo, traição ao Intraduzível, ao Inefável. José de lábios fechados é o homem que começa lá onde Job pára, que cobre com a mão a sua boca. Ele tem um sentido excepcional de Deus, da desmesura do seu Ser e da loucura do seu amor. 

Depois do regresso do Egipto, José desaparece. Acreditai-me, esta morte, esta passagem do bem-aventurado José não tem nada de triste. O seu silencio é o mesmo silencio de Deus. Está cheio da força do Amor.

 

Cardeal Joseph Ratzinger

(Homilia, Roma, 19.3.1992. Texto completo em https://opusdei.org/pt-br/article/quando-s-jose-dorme/)

 

Há pouco tempo vi em casa de uns amigos uma representação de S. José que me fez pensar muito. É um alto-relevo proveniente de um retábulo português da época barroca, em que se mostra a noite da fuga para o Egito. Vê-se uma tenda aberta, e, perto dela, um anjo de pé. Dentro da tenda, José está a dormir, mas vestido com a indumentária própria de um peregrino, calçado com botas altas, necessárias para uma caminhada difícil. Se na primeira impressão parece um pouco ingénuo que o viajante apareça também como adormecido, pensando melhor começamos a perceber o que a imagem nos quer sugerir. 

(...) Olhando para este José, que está vestido como peregrino, compreendemos que, a partir do momento do Mistério, a sua existência seria a de quem está sempre a caminho, num constante peregrinar. A sua vida foi assim uma vida marcada pelo sinal de Abraão: porque a História de Deus entre os homens, que é a história dos seus eleitos, começa com a ordem que o pai desta estirpe recebeu: Sai da tua terra para seres um estrangeiro (Gen 12,1; Heb 9,8ss). E por ter sido uma réplica da vida de Abraão, José aparece-nos como uma antevisão da existência do cristão. Podemos comprová-lo com particular vivacidade na primeira Carta de S. Pedro e na de Paulo aos Hebreus. Como cristãos que somos – dizem-nos os Apóstolos - devemos considerar-nos estrangeiros, peregrinos e hóspedes (1 Ped 1,17; 2,11; Heb 13,14): porque a nossa morada, ou como diz S. Paulo na sua Carta aos Filipenses, a nossa cidadania está nos Céus (Fil 3,20).

(...) Por tudo isto, demos graças a Deus neste dia porque nos deu esse Santo, que nos fala de recolhimento com Ele; que nos ensina a prontidão e a obediência e a atitude dos caminhantes que se deixam dirigir por Deus; e que, por isso mesmo, nos diz a maneira de servir igualmente a nossa terra. Imploremos a graça para que, mostrando também nós vigilância e prontidão, sejamos um dia recebidos por Deus, que é o nosso autêntico destino de caminhantes.

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